quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Rosa dos ventos


E do amor gritou-se o escândalo
Do medo criou-se o trágico
No rosto pintou-se o pálido
E não rolou uma lágrima
Nem uma lástima para socorrer
E na gente deu o hábito
De caminhar entre as trevas
De murmurar entre as pregas
De tirar leite das pedras
De ver o tempo correr
Mas sob o sono dos séculos
Amanheceu o espetáculo
Como uma chuva de pétalas
Como se o céu vendo as penas
Morresse de pena
E chovesse o perdão
E a prudência dos sábios
Nem ousou conter nos lábios
O sorriso e a paixão

Pois transbordando de flores
A calma dos lagos zangou-se
A rosa-dos-ventos danou-se
O leito do rio fartou-se
E inundou de água doce
A amargura do mar
Numa enchente amazônica
Numa explosão atlântica
A multidão vendo em pânico
A multidão vendo atônita
Ainda que tarde o seu despertar

Chico Buarque

3 comentários:

  1. Oiee td bem?
    Notei que vc está acompanhando meu blog Resgatados e gostaria de manter contato com vc pelo msn se fosse possível!
    Deixarei meu msn jeh_jolie@hotmail.com, caso queira me add!

    Estou aguardando

    Até mais!

    Deus te abençõe!

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  2. Chico é mestre. Já disse uma vez no blog, se eu fizesse uma tatuagem um dia certamente seria uma rosa-dos-ventos ou o símbolo do infinito.
    Também gostei muito daqui!
    beijos

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